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Por que as empresas precisam das ONGs?

Fala-se muito sobre solidariedade, voluntariado e terceiro setor

Autor: Maira MatosFonte: A Autora

Fala-se muito sobre solidariedade, voluntariado e terceiro setor. Mas, ao mesmo tempo em que a empatia e amor ao próximo são as mensagens da vez, a verdade é que a sociedade ainda não tem uma consciência clara sobre a importância de manter as entidades sem fins lucrativos.

E mais: desconhecem como elas podem promover profundas transformações em seus entornos e também na comunidade em geral, além de trazer inúmeras vantagens para empresas investidoras.

O IBGE nos mostra que o Brasil tem, hoje, pelo menos, 237 mil ONGs (Organizações Não Governamentais). Há organizações dos mais variados setores e para quase todos os tipos de trabalho. Elas mobilizam cidadãos com interesses em comum para suprir lacunas deixadas pelas organizações governamentais.

Não é de hoje que a população se associa para tentar resolver problemas conjuntamente e essa maneira tem se mostrado eficiente ao longo dos anos, pois atuam como centros de criatividade e inovação na busca pela solução de desafios complexos. O papel delas é muito abrangente, pois podem atuar em várias frentes, saúde, educação, assistência social, economia, ambiente, entre outras, em âmbito local, estadual, nacional e até internacional.

O cenário atual exige uma atuação cada vez maior e mais eficiente por parte dessas organizações, que padecem pela falta de investimentos cada vez mais restritos devido à priorização de outras questões por parte dos investidores. Mas, são inúmeros os incentivos fiscais para empresas que investem em projetos sociais por meio delas. E engana-se quem pensa que as vantagens são apenas financeiras. Há um ganho em imagem que agrega valor ao branding perante o público.

Um estudo realizado pelo Instituto Ipsos, em setembro de 2019, mostra justamente isso. Os consumidores preferem comprar de empresas que investem em causas sociais. E entre as causas preferidas citadas, 63% das pessoas escolhem aquelas que investem em educação e oportunidades de aprendizagem.

A empresa, então, que optar por investir numa organização que atua nessa área terá um diferencial competitivo para atingir outros públicos. O mundo corporativo precisa aproveitar a força que a responsabilidade social agrega para conseguir mais clientes e fidelizar os que já existem. Isso porque as ações sociais vêm crescendo e a consciência social se tornou mais presente na vida das pessoas, especialmente por conta das redes sociais.

Além disso, fazer doações para OSCs aumenta o valor da sua marca e ela passa a se promover por si mesma, gerando mais visibilidade. Ao ser parceira do terceiro setor, a marca ainda desperta um senso de empatia entre o seu público, engajando-o ainda mais para se tornar embaixador dela.

Uma empresa que doa para uma OSC também pode ter uma porcentagem do Imposto de Renda deduzido. Em vez de pagar seu imposto para o governo, é possível ajudar uma instituição que promove o bem-estar das comunidades mais vulneráveis, especialmente de crianças e adolescentes. Também existe um processo chamado renúncia fiscal, cujas regras dependem de cada município ou estado em que a empresa pode optar por investir em uma causa do terceiro setor ao invés de pagar seus tributos.

O doutor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fernando do Amaral Nogueira, aponta a relevância das OSCs para as empresas. Segundo ele, elas podem ajudar, trazendo seu conhecimento e legitimidade, trabalhando junto e fazendo esse meio de campo entre a empresa e as necessidades da sociedade. Em sua visão, trabalhar junto com as organizações sociais ajuda as empresas a evitarem erros, com a melhor das intenções, como doar coisas que uma escola não precisa ou começar a atuação em uma comunidade sem fazer um diagnóstico daquele meio antes.

Convivendo com as OSCs, as empresas podem envolver seus funcionários no trabalho social, promovendo importantes ganhos na convivência e clima organizacional. Apesar de todos os benefícios apontados, tenho visto o que considero mais importante: pessoas serem transformadas por fazer o bem e comunidades serem impactadas porque alguém se dispôs a fazê-lo. É chegado o tempo em que mais se precisa, entretanto, parece que quando, e quanto, mais se precisa, menos se encontra.

Fica aqui o meu convite para empresas que querem se engajar na causa. Para além dos benefícios, encontre um propósito maior para servir. Invista em ações sociais.

Maira Matos é coordenadora de projetos no Instituto BH Futuro.